Na pequena, bucólica, e contornada por verde (aliás muito verde), assim era Canela nos idos de 1972, quando começava o escritório de contabilidade Deport.  Nas rádios ouvia-se músicas dos Bee Gees, Ray Conniff, Stevie Wonder, Abba, Tim Maia, John Lennon, Queen, Roberto Carlos, Raul Seixas, Novos Baianos, Belchior, Gonzaguinha, Djavan, Ivan Lins entre tantas outras melodias que tocavam nos famosos bailes e festas de garagem. Ao mesmo tempo, nos anos 70 aconteceram a morte de Elvis Presley e o fim da banda Beatles.

Uma época de ouro, mas também repleta de acontecimentos marcantes onde diversas manifestações aconteciam, como festivais de rock ao ar livre e a pregação de uma vida mais alternativa. Na conjuntura política, o mundo borbulhava e o acontecimento de maior relevância mundial no contexto político foi a Revolução dos Cravos, que aconteceu em Portugal. Já no Brasil, durante toda a década de 70 aconteceu a ditadura militar como forma de governo, e foi também neste período que aconteceu o “milagre econômico”, que colocou o Brasil em 9° lugar entre os países com melhor economia do mundo.

Nos anos 70 a França também lançou o Concorde, primeiro avião supersônico comercial, além da missão espacial Viking I, que enviou uma sonda para Marte em 1975.

A moda nos anos 70 foi marcada por uma grande variedade de movimentos e estilos, bastante influenciada pela moda dos anos 60.

Nessa década o movimento Hippie foi extremamente popularizado graças ao festival de música Woodstock, em 1969. Era comum o estilo de se vestir dos jovens que propagavam paz e amor. Logo, as calças boca de sino, estampas, batas e cabelos e barba longa fizeram parte do estilo da população da década de 70.

Contudo, o Hippie não foi o único estilo a ganhar força nos anos 70. O movimento punk, com suas calças rasgadas, rebites, alfinetes, jaquetas de couro e cabelos com cortes e cores diferenciadas, também se espalhou.

Foi na década de 70 que nasceu o conceito de grife, para diferenciar as roupas exclusivas feitas por estilistas que começaram a ser produzidas em série.

E por Canela…. Em 1972 era inaugurado o Hotel Charrua, nesta mesma década o CTG Querência de Canela, foi convidado a ir ao Rio de Janeiro, e por lá fizeram diversas apresentações ganhando destaque na mídia. 

Posteriormente a rainha do Festival da Serra Yolanda Pütten também esteve na Cidade Maravilhosa para divulgar o Festival, sendo que a revista Cruzeiro a mais importante do Brasil, fez o registro, dando espaço para este trabalho e consequentemente mostrando um pouco do município. Neste mesmo ano, a Igreja Matriz recebeu o carrilhão de bronze com 12 sinos, chamado de Carrilhão da Independência, pois foi inaugurado em 7 de setembro, e foi nesta década que iniciava a construção do ícone Laje de Pedra.

 

Escritório Técnico Jung em 1966, onde aparecem o Sr. Egon Jung (de pé), Anibal Port e Paulo Roberto Drechsler (de costas)

Enquanto em todo o mundo as cabeças fervilhavam… em Canela, as cabeças pensantes de Anibal Port e Paulo Roberto Drechsler começavam uma parceria duradoura que unia principalmente o amor pelo trabalho, a compreensão e alguns elos comuns, como por exemplo, o amor pelo futebol. Ambos são apaixonados pelo Internacional. Colorados de coração, e com uma mente diferenciada. O que hoje é debatido nas principais Universidades do mundo, tais como gestão focada em processos e qualidade e o investimento no esporte, hoje implementados por muitas empresas, eles lá atrás já colocavam em prática. Sonhadores e visionários podemos dizer assim! Tudo começou porque o ex-chefe de ambos e atual sócio, resolveu se aposentar e ofereceu para eles o escritório contábil. Eles nutrem uma gratidão profunda pelo Sr. Egon Jung, e seguem reverenciando o ex-chefe pela sua conduta.

Mas o destino já estava disposto a cruzar os dois, pois bem antes, eles pouco se conheciam, mas descobriram algum tempo depois que fizeram juntos a Confirmação na Igreja Evangélica Luterana. A história conta momentos pitorescos, a iniciar pela compra do escritório e da casa onde funciona até hoje a sede da empresa, na Praça João Corrêa, 65, centro de Canela. Com características diferentes, mas ambos sempre retilíneos na sua conduta, o que mantem uma empresa de serviços contábeis com 50 anos e com clientes fiéis desde a sua fundação.

Antes mesmo desta aquisição ambos os sócios estudavam o curso técnico de contabilidade, e o Sr. Egon tinha o costume de convidar os filhos dos clientes para trabalhar com ele, pois percebia que poderia futuramente auxiliar seus pais nas empresas, e assim foi com o Anibal, que ingressou no escritório em janeiro de 1965. Já o Paulo, a contratação foi diferente, pois ele já cursava o técnico em contabilidade e por isto foi convidado a atuar no escritório, um pouco antes, em dezembro de 1964. Futuramente se graduou em Ciências Contábeis e Administração de Empresas em Taquara, quando ali havia uma extensão da Unisinos.

 

Turma do 1º ano do Curso Técnico em Contabilidade da Escola Técnica do Comércio Cidade das Hortênsias em 1963, com o professor Egon Irmfried Jung ao fundo. 

Eles já estavam atuando juntos no escritório sob o comandando do Sr. Egon quando, em meados de 1970, ele os convidou a fazer parte da sociedade no escritório. Em 1971, quando o Sr. Egon decidiu parar de trabalhar, ofereceu o escritório aos dois jovens de pouco mais de 20 anos. Eles se olharam e logo se perguntaram: mas vamos pagar como?  Analisaram… fizeram muitas contas. Soma daqui, divide ali, multiplica acolá, de um lado os números e de outro o desejo de empreender. Após muitas análises, eles disseram sim, e foram buscar os recursos para pagar o Sr. Egon, que fez a proposta para pagar bem parceladinho, proposta de pai para filho.

Olhando hoje para o semblante angelical de Anibal ninguém acredita que ele, quando era criança “aprontava”. Diz ele: que não podia ver uma bola que saia atrás dela; e aqui uma pausa, dá para ficar horas falando com ele sobre o tema, sabe detalhes e relembra as datas e quem fez os gols pelos campeonatos por aí a fora.  Já olhando para o Paulo, podia se dizer que era um menino levado. Mas não… pelo contrário, era uma criança quieta e que também gostava muito de futebol e de estudar.

 

Paulo Roberto Drechsler recebendo o diploma das mãos do Sr. Egon Jung na formatura do Curso Técnico em Contabilidade em 1965

Com a pandemia ambos se afastaram um tempo da empresa, mas seguem trabalhando cada um na sua área, um mais na área pessoal, e o outro mais na área contábil.  Dizem eles: estas tecnologias ajudam muito, mas é preciso dominá-las e aqui eu vejo que perdemos espaços para a gurizada. No nosso tempo era tudo muito diferente, quando começamos o escritório, tinha o pessoal dos órgãos públicos e da fiscalização que promoviam reuniões para explicar a aplicação das normas. O Imposto de Renda mudava uma vez ao ano, e olha lá, hoje a legislação muda a cada semana, quando não muda todos os dias. Então se faz necessário a tecnologia para acompanhar.

A sucessão da empresa foi feita devagar e de forma despretensiosa e já estava pronta quando a pandemia chegou. Rosângela Port Sartori e Paulo Roberto Bergamo Drechsler já atuam no escritório, há mais de 30 anos, e neste momento em que a pandemia da Covid-19 assolou o mundo, os dois filhos já estavam a postos para tudo. Rosângela tem na sua base de formação o magistério e administração de empresas. Já Paulo Roberto é formado em técnico de contabilidade e analista de sistema, e iniciou na empresa como office boy, e ela começou ajudando na organização da papelada que demanda em um escritório contábil.  O que acontece hoje é uma sequência do passado com um olhar para o futuro que se descortina na charmosa “casinha” da Praça João Corrêa.

Então, venham nos acompanhando mês a mês no nosso calendário, que este ano podemos chamar de “calendárioflix”, pois os descentes de alemães Anibal e Paulo, que são contadores, inclusive de histórias, têm muito a nos contar. E o próximo episódio é sobre futebol que corre por todos os poros desta dupla.  Se prepara que vem gol…

 

Nossos votos que 2022 possamos ter muitos momentos felizes…

Jornalista: Rozangela Allves