Em pleno 2022 existem lugares que ainda utilizam a máquina de escrever, conhecida também como máquina de datilografar, você acredita? Sim, existe. Olhando rapidamente na internet se encontra vários modelos à venda. Pois bem, em 1972 a Deport Contabilidade tinha duas delas e mais um rol de equipamentos para que os trabalhos fossem desenvolvidos da melhor forma possível. 

Na pesquisa realizada, ao verificar o Livro Diário de número 1 da empresa, que está intacto, dá até uma emoção de ver a “vida” do escritório toda apontada ali.  E foi justamente neste livro que localizamos os seguintes equipamentos: 4 máquinas manuais Olivetti de somar, 1 máquina elétrica Olivetti de somar, 1 máquina de contabilidade Olivetti, 1 máquina elétrica Facit de contabilidade, 1 máquina de escrever Remington e 1 máquina de escrever portátil Remington.  Além dessas máquinas, o escritório tinha 1 bicicleta, 1 mimeógrafo, 1 copiador, 1 cofre de aço e 1 arquivo também de aço. Tudo isso era o patrimônio do escritório, que somava o total de Cr$ 22.341,00 (o cruzeiro era a moeda da época).  

Calculadora Manual Facit.

 

Máquina de Contabilidade Elétrica CFE-243 com Somador e Memória.

 

Maquina-de-Somar-Olivetti-Summa-Prima-20.

 

Aos poucos foram se desfazendo e substituindo por equipamentos mais modernos, o único que sobrou foi um cofre de aço que foi comprado em Gramado por Cr$ 500,00. E carregar o cofre é que foram elas, mas uns fortões deram conta do recado e ele está lá até hoje.

Para equipar o escritório eles usaram a estratégia de comprar equipamentos usados de outras empresas, entre elas o Banco do Brasil.  Depois compraram duas máquinas de escrever do tabelionato. A meta do Paulo e do Anibal era que todos os funcionários tivessem seus equipamentos. E para que isso de fato virasse uma realidade, certa vez o Anibal foi até Porto Alegre participar de um leilão de máquinas. Sendo a primeira vez que participava de um leilão, chegando lá todo mundo dando lance e ele só olhava. Lá pelas tantas o leiloeiro, olhou e perguntou “não vai dar lance?”, hoje ele conta e dá risada, mas na hora resolveu dar o lance e a máquina acabou sendo da empresa. E, você que está acompanhando essa trajetória, já sabe, meta traçada, é meta? Alcançada, é claro!

Paulo Drechsler não fez o curso de datilografia, ele foi autodidata e aprendeu na máquina de escrever do avô, Sílvio Hoffmann. Nos finais de semana ele ia para casa dos avós, na Rua João Pessoa, e por lá ficava datilografando, ou “dedografando” os trabalhos de aula do colégio e outros assuntos de seu interesse, como os nomes dos jogadores dos times de futebol de botão. Já o Anibal Port fez o curso de datilografia da professora Marlene Riva, numa escola que ficava na casa dela, próxima à Catedral de Pedras. Ao término do curso, acontecia a prova onde todas as letras eram cobertas por uma cartolina e os alunos precisavam datilografar corretamente o texto, sem ver as teclas, em um tempo determinado. E ele passou, claro. 

O Livro Diário é o livro onde são escrituradas em ordem cronológica todas as operações da empresa e era devidamente registrado na Junta Comercial ou no Registro de Título e Documentos. Na época, todos os registros eram manuais ou mecânicos, mas hoje todo este trabalho é digital, obviamente.

 

Página de um Livro Diário Manual.

 

Você imagina que nas reuniões e atendimentos externos a máquina de escrever portátil acompanhava os empreendedores, sempre no intuito de atender da melhor forma o cliente, afinal né, o cliente é o senhor da razão de uma empresa existir. Mas já eles tinham esse tino de levar o equipamento, explicar e dar uma consultoria para que os clientes entendessem melhor os números das suas empresas, e o que era possível fazer para melhorar esses números. Paulo é veemente ao dizer, até os dias de hoje, “não somos despachantes e sim contadores, nossa missão sempre foi e sempre será oferecer soluções em serviços contábeis com credibilidade e eficiência”. 

Carimbos, mata borrões, mimeógrafo, eram equipamentos úteis no dia a dia. Os contratos, circulares e comunicados que precisavam de muitas cópias, eram feitas no mimeógrafo. Na época as fotocópias, mais conhecidas como xerox, eram para poucos e até bem pouco utilizadas.  Ah, e tinha a “sinoteca”, que lembra discoteca e cinemateca, mas não é nada disso. Era como se chamava uma caixa de madeira que servia como fichário.

Os registros das compras e vendas eram registrados em livros que eram escritos à mão com caneta tinteiro, um capricho à primeira vista, mas o detalhe é que não era apenas por capricho e sim porque se errasse tinha uma “tecnologia” peculiar para apagar. Você pode imaginar o que era? Me surpreendi com a técnica utilizada, uma verdadeira “tecnologia de ponta” para a correção: a velha e boa Qboa, sim, o alvejante que usamos para limpeza. Eles aplicavam a Qboa e depois passavam o mata borrão, que servia e serve para absorver a tinta de escrever ainda fresca. Paulo afirma que ficava perfeito. Erro corrigido e vamos em frente. 

 

Bom lembrar que quando iniciaram, o escritório tinha um telefone com o final 1256, ou seja, internamente tinha alguns ramais, mas somente uma linha telefônica. O tempo passou e veio a linha com o final 1435 e, além dos sócios, cada setor passou a ter o seu ramal interno. Ah, e além dos equipamentos de trabalho, uma cafeteira para fazer 12 xicarazinhas de café também era um xodó deles. 

Daniel Silvestrin com sua máquina de escrever e os telefones de linhas externas ao fundo em 1978.


Paulo em sua mesa em 1978, com os telefones externo (cinza) e interno (vermelho).

 

Nesalisa Schmitz Padilha Maria Lorena dos Santos em pe e Marisa Padilha em 1978.

 

Enquanto eles compravam estes equipamentos, lá nos Estados Unidos alguns fatos marcantes aconteciam. Em abril de 1975, Bill Gates e Paul Allen fundaram a Microsoft. O primeiro produto desenvolvido pela empresa foi uma versão do interpretador da linguagem de programação BASIC para o computador MITS Altair 8800. Em 1981 a Microsoft lança o sistema operacional MS-DOS, baseado no sistema operacional CP/M, e inicia a popularização dos computadores pessoais. Em 1983 ela lança a primeira versão do MS-Windows, que se passou a dominar o mercado em sua versão 3.1, em 1992.

Justamente um ano depois, em 1976, os jovens Steve Jobs e Steve Wozniac fundam a Apple Computers. Durante 30 anos, a companhia representada com a icônica imagem de uma maçã mordida lançou produtos e serviços inovadores, como os computadores Apple I, Macintosh, iMac e MacBook, o sistema operacional Mac OS, o iTunes, o iPod e, é claro, o iPhone. O resto você já sabe: revolucionaram a tecnologia e conquistaram uma legião de fãs.

Os equipamentos usados no escritório eram muito modernos para a época. E a busca por inovação e tecnologia sempre acompanhou a trajetória da empresa, como o início da informatização, na segunda metade da década de 1980, sempre de olho no futuro, mas voltaremos com este tema em outro capítulo desta bela história. 

Paulo em sua sala em 1983.

 

Rozangela Allves

Jornalista