“A AABB sai para o ataque, o goleiro, Paulo Fellipetti entrega para Norli que passa para Zé Selbach, que imediatamente passa para Zinke, que perde a bola para Beto, que toca para o Tutinha, ele passa para Choda, que lança Paulinho, ele vai driblar o goleiro, mas Paulo Fellipetti toca na bola fora da área. Falta para o Deport. O cronômetro marca 30 segundos para o fim da partida. O jogo está 1 a 1 e o empate dá o título para a AABB. Choda vai cobrar a falta, ele passa para Paulinho que chuta de bico e é GOOOOOOOOOOLLLLL!!!! A bola passa pela barreira, engana o goleiro Paulo Fellipetti, e vai morrer no fundo do gol. É o gol do campeonato! Não há tempo para mais nada! “

Essa é a narração da Rádio Clube de Canela na transmissão da final do campeonato que consagrou o Deport bicampeão municipal de futsal, na época chamado de futebol de salão, nos idos de 1973. Esse time era formado pelos seguintes atletas: Liomar Cletes de Moraes (Branco), Alceu Cavalli, Anibal Port (Choda), Paulo Roberto Drechsler (Paulinho), Nelson José Pedroso da Cunha (Tutinha) e Roberto Padilha (Beto), Sérgio Sidnei Saueressig (Sid). O técnico era Ênio Erich Becker (Ratão).

Bicampeão Municipal de Futsal de Canela em 1973. (Momento do gol do título, marcado por Paulo Roberto Drechsler (Paulinho) no final da partida.)

Bicampeão Municipal de Futsal de Canela em 1973. (Paulo Roberto Drechsler (Paulinho) dando entrevista a Gilberto Silva da Rádio Clube de Canela, após o final da partida. Aparecem também, à esquerda, Nelson José Pedroso da Cunha (Tutinha) e, à direita, Anibal Port (Choda).)

Se naquela década houvesse a instantaneidade dos tempos atuais, com certeza seria um fato histórico que ganharia maiores dimensões, mas a história ganhou corpo em Canela, Gramado e na região.

Na foto deste calendário você conhece os atletas que formaram o primeiro time do Deport, que disputou o 1º Campeonato Citadino de Futsal de Canela em 1972, e se sagrou seu primeiro campeão.

Da esquerda para a direita, em pé: Anibal (Choda), Roberto Padilha (Beto), Jair da Veiga (Jair), Clovis Salvador; agachados: Paulo Roberto Drechsler (Paulinho), Nelson José Pedroso da Cunha (Tutinha), Alceu Cavalli (Alceu), Sérgio Sidnei Saueressig (Sid).

Foram muitos gols ao longo da história de vitórias do Deport, mas é importante frisar que o time se consagrou campeão por muitas vezes, em 72, 73, 74, 75 e 78, tornando-se pentacampeão (veja abaixo as conquistas do time). Nasceram para sacudir as redes.

Ambos os sócios são colorados, bom lembrar que os filhos também são, mas na equipe vencedora tem gremistas também. Se em 1975, o Deport era tetracampeão, o time do coração deles se consagrava, no mesmo ano, Campeão Brasileiro. Nos idos de 1970 o piloto de Fórmula 1 Emerson Fittipaldi foi o primeiro brasileiro a ganhar o campeonato mundial, e nem vamos querer narrar o inenarrável, pois em 1970 a Seleção Brasileira ganha a Copa do Mundo conquistando o tricampeonato, com um time de ouro, Pelé, Jairzinho, Tostão, Rivelino, Carlos Alberto, entre outras feras. Que momento de glória. Era vibração pelo Brasil e em Canela não era diferente, a bola era a mais querida de todos. 

Tetracampeão Municipal de Futsal de Canela em 1975. (Anibal Port (Choda) erguendo a taça de campeão.)

Tetracampeão Municipal de Futsal de Canela em 1975. Em pé: Boca; Ênio Erich Becker (Ratão); Jorge Bonatto; Anibal Port (Choda); Roberto Padilha (Beto); Luiz Fernando Carassai; Paulo Roberto Drechsler (Paulinho). Agachados: Artur Airton Saul (Brahma); Cristina Nunes Saueressig; Antônio Zeno de Oliveira (Zeno); Nelson José Pedroso da Cunha (Tutinha)

Mas é para contar a história da Deport Contabilidade, ou é para narrar jogos?  Pois é… é que a história da empresa está muito ligada ao mundo futebolístico e esportivo. Senta que vem mais histórias por aí.

Lembra que em janeiro narramos sobre a compra da empresa? Pois é, compra feita, vamos ao trabalho do dia a dia. Chegou a hora de escolher o nome do escritório e ele veio de forma inusitada. Como assim? Pois acredite, o nome saiu do futebol, que eles tanto amam. Na época aconteceria o 1º Campeonato de Futebol de Salão em Canela e, como com a equipe que trabalhava no escritório podia se formar um bom time para disputar o campeonato, eles resolveram se inscrever. E para isto precisava, é claro, de um nome. E como foi feito? Na hora que o Heitor de Roos, integrante da equipe organizadora da competição, além de amigo do pessoal do escritório, foi inscrever o time, esbarrou nesta questão. Lá mesmo começaram a fazer o famoso brainstorm, discute daqui e dali, várias ideias foram surgindo, e lá pelas tantas pegaram o De (Drechsler) e Port (Port) ficando DEPORT. Além de surgir o nome para o time, acabou sendo o nome do escritório. E já na primeira participação acabaram sendo campeões. Entenderam então por que o futebol está tão inserido na vida da empresa? 

De futebol tem muitas e muitas histórias para contar. Imagina que eles perderam um campeonato na escolha da moeda? Cara ou coroa? Pode isso, Arnaldo? Anibal e Paulo contaram que o campeonato terminou empatado, era Deport versus Forrageira, e o CMD – Conselho Municipal de Desportos não quis fazer a prorrogação e nem penalidades, foi mesmo na moeda para escolher o campeão. E na hora eles perderam, mas eles não se lembram qual o lado escolheram. Inusitado não é mesmo? Coisas do futebol!

Paulo era pivô, o responsável por dar mais movimentação ao jogo, e Anibal era fixo, a sua principal função era impedir os ataques do adversário. A dupla vai bem, basta ver os resultados dos campeonatos que participaram. Aliás vai bem até hoje, basta ver a empresa vencedora que criaram nestes 50 anos.

Além de futsal a dupla jogava futebol de campo também. Se Anibal foi para o lado amador, Paulo optou por jogar os varzeanos, como ele diz. Anibal foi craque no Esporte Clube Serrano de 1965 a 1978.  Já Paulo jogou em vários times entre os quais o Esporte Clube Santa Terezinha e Grêmio Esportivo Esperança, de grande relevância para época. Vocês já perceberam que eles não gostavam de bola?  Só que não né!!! Eles amam uma bolinha.

Nesta época estes campeonatos eram organizados pelo CMD, que atualmente é o DMEL – Departamento Municipal de Esporte e Lazer. Eles relembram, saudosistas, que na época as torcidas eram acirradas e toda a cidade ia assistir os jogos, sem contar que sempre reverenciados, admirados. Eram estrelas na cidade.

Na linha amadora, Anibal era atuante, além de apaixonado pelo futebol, foi uma pessoa muito disciplinada quando atuava, o que lhe rendeu o Prêmio Belfort Duarte, concedido pela CBD – Confederação Brasileira de Desportos (atual CBF – Confederação Brasileira de Futebol) a atletas que atuam em campeonatos oficiais e que, ao longo de dez anos, acumulem 200 jogos sem expulsão. E ele jogou 222 jogos, por isto recebeu este prêmio, que raríssimos jogadores no Brasil possuem. Este título lhe concede algumas regalias como, por exemplo, o direito de entrar em qualquer estádio do Brasil sem pagar, com duração vitalícia. 

São muito boas histórias para contar sobre o futebol, inclusive o famoso Nelson José Pedroso da Cunha (Tutinha), promessa do futebol canelense, estava sendo disputado por dois times, e para conquistar ele a Deport ofereceu emprego, embora ele já estivesse trabalhando no SPC (Serviço de Proteção ao Crédito) de Canela, em um espaço onde antes existia o antigo Escritório Técnico Jung, onde Paulo e Anibal foram funcionários (saiba mais na história de janeiro). Ou seja, até aqui as estratégias estavam sempre unidas ao trabalho e o amor pela dona redonda. Pois, eis que Tutinha trabalhou por quase cinco décadas, na empresa, leu bem? Vamos repetir, sim isto mesmo, cinco décadas até decidir se aposentar, e para ele a valorização como pessoa, o coleguismo, o clima de trabalho e a amizade foram fatores fundamentais para se manter atuante no escritório. O que o futebol não faz né minha gente?  

Mas emoção mesmo é reunir os três ao redor da mesa para relembrar o tempo que passou, e que não tem volta. Lágrimas? Sim. Risos? Também. E relembrar de um tempo distante, mas nem tão distante assim, emociona mesmo. Tutinha perdeu a conta de quantas vezes levantou o “caneco”, mas tem o seu gol mais bonito e inesquecível: muito emocionado e com brilho nos olhos ele conta que foi o gol contra o time América, nas Piscinas, como eles chamavam o Canela Tênis Clube. O gol foi de bicicleta, diz ele que saltou no ar, pedalou e gooool!  Jogando como pivô, ele diz que o time era quase imbatível e jogava como uma orquestra tamanha a perfeição e afinação. 

Tutinha e os dois chefes, Anibal e Paulo, trabalhavam até às 18h e depois se concentravam fora do escritório para os jogos. Jogavam à noite e, no dia seguinte, mesmo quando se machucava estava de volta ao trabalho. Ele lembra uma vez que machucou o pé e trabalhou todo o dia com o pé dentro de um balde com água e gelo para aliviar, mas seguia firme no trabalho e nas competições. Antes dele se encerrar a carreira, o trio jogou o campeonato de sêniores, inclusive se consagraram bicampeões, com alguns remanescentes dos primeiros títulos na década de 70. “Eu tenho muito orgulho de ter jogado, onde eu chegava, e até hoje, as pessoas perguntam se eu jogava pelo Deport, isto me dá muita honra”. Ele encerra dizendo que fez muitas amizades através do futebol, e a sua vida se resumiu ao Deport e ao futebol. Mesmo que ele não atue mais na empresa, ele simplesmente é apaixonado pelo Deport, e diz “o Deport é o Deport, é o melhor de todos os tempos”.

Outro detalhe que Paulo e Anibal relembram de forma bem carinhosa, foi quando algumas amigas vieram pedir as camisetas do time emprestadas para brincar o carnaval, para você entender como era naquele tempo, tudo muito simples, e eles emprestaram. “Nosso time tinha relevância”, recordam eles com saudades de um tempo onde a simplicidade estava intrínseca na vida das pessoas. 

Outra recordação deles era o peso da bola. “Era pesada”, dizem eles, era de couro e pesava mais ou menos 400g. Este tipo de bola foi responsável para que algumas unhas saltassem para fora, eles contam e dão risadas, Paulo diz que quando ele podia ou quando precisava chutava de bico mesmo.

E pensa que a bola só sacolejava as redes no Brasil?  Não e não.  Em 1979, o time disputou duas partidas contra o Banco Panamericano do Uruguai, sendo que a primeira foi em Montevidéu e a outra em Canela. E o resultado? Isto mesmo que você está pensando. O Deport venceu as duas partidas conquistando o Troféu Amizade. É!!! Nem mesmo a Celeste meteu medo nos patrões, porque eles estavam sempre ligados nas estratégias tanto dentro das quadras como fora delas. Como se diz atualmente, os pais estão on. O Banco Panamericano foi adquirido pelo Banco Central do Uruguai em 1982. Já o Deport segue campeão fora das quadras e já se vão 50 anos.

Um dos motivos para encerrar a participação do time Deport nos campeonatos foi a era da “profissionalização”, precisava montar estrutura, e o pessoal já não jogava “por amor”, já havia equipes pagando atletas, e eles queriam usufruir o futebol de forma mais lúdica, sempre para ganhar, mas por amizade e camaradagem. Relembram detalhes tão pitorescos e simples, como o fato deles terem apenas uma camisa por jogador, se precisasse trocar o jogador a camisa teria que ser a mesma. Tempos felizes, diferente da atualidade, onde se faz necessário uma infraestrutura maior e muito investimento. Só olhar os noticiários e ver quanto custa um jogador atualmente.

O tempo vai passando e a Deport repete a trajetória vencedora vinte anos depois. Após a conquista em 1972, eles voltaram às quadras e de novo ripa na chulipa e gol, e de novo se tornam campeões. Em 1992, com a mesma base do primeiro campeonato, participaram de um jogo pelo Campeonato Citadino de Futsal Sênior de Canela e o Deport venceu o Ypiranga por 3 a 1 com dois gols de Beto e um de Paulinho. O campeonato de maior relevância para Canela volta à cena, agora na categoria sênior, e eis que os mesmos vencedores se tornam de novo campeões. É ou não é uma façanha? Esta dupla sabia ou não sabia de futebol? Sim, e como sabiam.

Primeiro Campeão Municipal de Futsal Sênior de Canela em 1992. Em pé: Aquelino Bergamo (Piero); Anibal Port (Choda); Jair da Veiga (Jair); Paulo Santos (Paulinho Santos). Agachados: Paulo Roberto Drechsler (Paulinho); Nelson José Pedroso da Cunha (Tutinha); Sadi Calgaro (Tchéia); Roberto Padilha (Beto)

O amor pelo futebol permeia a vida dos sócios e da Deport Contabilidade, e está inserido na história do futebol de forma vencedora, bem como no dia a dia da empresa, onde gerar valor aos clientes é uma das razões de existir.

Linha do tempo:

1972 – Campeão Municipal

1973 – Bicampeão Municipal

1974 – Tricampeão Municipal

1975 – Tetracampeão Municipal

1976 – Campeonato não foi realizado

1977 – Campeonato não foi realizado

1978 – Pentacampeão Municipal

1979 – Vice-Campeão Municipal

1980 – Vice-Campeão Municipal

1981 – Terceiro Colocado

1982 – Quarto Colocado

1983 – Terceiro Colocado

1984 – Campeão Municipal

1985 – Bicampeão Municipal

1986 – Sexto Colocado

1987 – Terceiro Colocado

1988 – Estava licenciado

1989 – Quinto Colocado

1990 – Terceiro Colocado

1991 – Terceiro Colocado

1992 – Terceiro Colocado

1993 – Terceiro Colocado

1994 – Campeão Municipal

1995 – Terceiro Colocado

1996 – Quinto Colocado

1997 – Vice-Campeão Municipal, época em que encerrou o time

Rozangela Allves

Jornalista

 

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