É no fio do bigode, mesmo não tendo bigode, para eles é o que vale. Era assim naquele tempo, há 50 anos atrás. E foi assim que os fundadores da Deport Contabilidade, Anibal Port e Paulo Roberto Drechsler compraram a casa, localizada na Praça João Corrêa, 65, bem em frente à Praça Central de Canela. Uma “casinha” cheia de charme, e você já pode estar deduzindo que, entre aquelas paredes, milhares de histórias foram vividas, outras tantas foram testemunhadas e muita contabilidade aconteceu, mas muita mesmo. Se fosse colocar um número atrás do outro de todas as somas e conciliações que aconteceram dentro desta empresa, garanto que dava mais que uma volta no Globo Terrestre, pois são 50 anos de contabilidade.
Pois bem, a história de certa forma começa assim, eles adquiriram a carteira de clientes, móveis e equipamentos do Escritório Técnico Jung, e a partir deste dia deram início à Deport Contabilidade, e em busca de conseguir dinheiro para o pagamento do negócio, começaram a visitar os clientes, sendo que numa destas visitas um deles ofereceu para compra a sede de sua empresa pois iria mudar de cidade. A conversa foi com o Paulo, que voltou com a notícia para o Anibal da possibilidade de comprar a casa que seria a sede da Deport. Um olhou para o outro e comentaram como é que vamos comprar essa casa se acabamos de comprar o Escritório? Depois de muita conversa visualizaram o futuro da empresa com uma sede própria e acharam uma solução para alcançar esse objetivo.
Fizeram todos os cálculos possíveis e imaginários e através de uma jogada estratégica que uniu talento, lisura e consistência, conseguiram comprar o imóvel. Como o cliente estava com alguns tributos em atraso, acertaram com ele que parcelariam os impostos e assumiriam as prestações em nome da empresa, pagando assim, uma parte da dívida contraída. O restante seria pago através de um empréstimo junto ao extinto BNH (Banco Nacional da Habitação), cujo atendimento se dava pelas agências da Caixa Econômica Federal, que acabaria incorporando o BNH em 1986.
Mas, caro leitor, cara leitora, essa é só uma pequena parte da história. Como havia a necessidade de garantias para conseguir o empréstimo, o então dono do imóvel (excliente em questão) antecipou a escritura e passou a casa para o nome deles. Dessa forma poderiam dar o imóvel em garantia para que o banco fizesse o empréstimo, a ser pago em 5 anos. Pergunta que fica latente: será que, se fosse nos dias atuais, conseguiam tamanha façanha? O ex-cliente que, naquela altura do campeonato, foi um verdadeiro pai para eles.
Tudo certo, tudo encaminhado, precisava conseguir o tal empréstimo. Lá foram eles para São Francisco de Paula, pois era onde estava a agência da Caixa Econômica Federal mais próxima naquela época. Pois, não é que no meio do caminho quando estavam indo, tinha uma pedra a ser removida, sabe como é né!? Sempre tem pedras a serem removidas para edificar os castelos, então o jovem Paulo, em seu Ford Corcel 1972 vermelho, novinho, todo supimpa indo para São Chico assinar a documentação, derrapou na estrada, ao invés de frear o carro ele acelerou, e não deu outra: o carro rodopiou e eles ficaram empenhados antes mesmo de chegar no destino final para assinar os documentos. E agora? Imagino que deve ter dado um friozinho na barriga.
Naquela época não passava carro a todo instante. Ficaram esperando uma carona para chegar na Caixa Econômica Federal, e tiveram sorte, conseguiram. Então assinaram o tão sonhado empréstimo. Deu tudo certo, conseguiram carona e agora tinham que organizar a volta. É muita emoção para um dia só, mas eles tinham energia de sobra e os corações aguentavam todas as emoções. Agora é pensar na remoção do famoso Corcel vermelho. Documentos assinados, dinheiro que vai pra conta, parcelinhas a perder de vista, assunto resolvido. Mas o pensamento estava em como fazer para retornar e trazer o carro. Não deu outra. Eles sempre bem articulados, foram atrás de um cliente da época, a empresa Irmãos Salvador & Cia., e solicitaram que rebocassem o carro, sendo que eles vieram junto no carro do reboque. A estrada na época era de chão batido e o motorista do caminhão era veloz e bateu o medo nos dois, pois ficaram com receio de outro acidente. Mas tudo ficou muito bem. Depois dessa aventura, “sebo nas canelas”, como se diz, para correr e pagar as dívidas que contraíram: a compra do escritório, da casa, e agora mais uma, o conserto do Corcel. Foram atrás de mais clientes e muito trabalho duro para ir quitando uma continha por vez. Foi uma época difícil.
Cada momento é aquele momento e estavam felizes pelo que estavam vivendo. Respiraram, e felizes olharam para a escritura da casa, que tinha 275,82m², e ali estava uma casa de alvenaria com dois pavimentos.
Algum tempo depois, em 1977, foi construído um “galpão” especialmente para as confraternizações dos funcionários, e é bom que se diga que foi a própria equipe que ajudou a construir, auxiliando a colocar as costaneiras para dar aquele belo acabamento de madeira. Era neste espaço que o time de futsal da Deport se reunia antes das partidas decisivas, espacinho abençoado não é mesmo? Lembre que se consagraram campeões em muitos campeonatos e é justamente ali que estão os troféus que eles ergueram.
O “galpão” de festas que foi cenário de muitas comemorações e confraternizações.
Churrasco de confraternização da equipe de futsal da Deport em 1996.
Comemoração do Título de Tetracampeão Municipal de Vôlei Feminino de Canela em 1999.
Passou um tempo e eles resolveram ampliar a casa, pois começaram a empreender em outras áreas, além do Escritório de Contabilidade Deport, eles fundaram a Imobiliária Deport, em 1977, depois a Serra Verde Incorporações e Loteamentos, em 1979, a Deport Processamento de Dados, em 1983, e a Sauna Deport, em 1974. Ah, a Sauna tem história e já vamos falar dela.
Fachada da Deport Contabilidade em 1996.
Para começar a história da Sauna, vamos contar que houve muita apreensão da Sônia, esposa do Anibal, pois, na época foi preciso hipotecar a casa deles para obter o empréstimo para a reforma do prédio, e a Sônia estava por demais preocupada com a ousadia dos dois empreendedores, mas como se diz, no fim tudo dá certo, e deu.
A Sauna Deport surgiu por ter uma oportunidade de empreender, já que na região não existia sauna, e também porque, ao lado do escritório, existia a Lavandeira Pinus, que gerava muito vapor para o processo de lavagem e secagem das roupas, e eles entraram na história. Fizeram uma parceria com a lavanderia, que cedia o vapor para aquecer as saunas. Mas logo eles buscaram uma locomóvel, uma máquina mais potente para fazer mais vapor e assim fundaram a sauna no subsolo da casa. Antes de iniciarem a reforma chamaram um engenheiro para fazer a planta baixa. Ainda assim, resolveram consultar quem tinha experiência no ramo, e visitaram o proprietário da Sauna Guaíba, de Porto Alegre, que se prontificou em dar uma consultoria. Hoje eles dão risadas, mas afirmam que, se não tivesse este apoio, teriam tido muitos problemas. Para se ter ideia, no projeto original ia ter gesso no teto, imagina vapor para cima e teto para baixo…rs…rs… ainda bem que foram ouvir mais uma pessoa para seguir a reforma.
Na inauguração, contaram com a presença do Padre Ângelo Moroni e do Pastor Kahrl Ghering para dar a bênção ao empreendimento, e ofereceram um coquetel aos convidados. Transportando para o ano de 1974, ou seja, 48 anos atrás eles estavam muito à frente do seu tempo.
Matéria no Jornal Nova Época de Canela sobre a inauguração da Sauna Deport em abril de 1974.
Quando o Grêmio e o Internacional faziam suas pré-temporadas em Canela, era fácil encontrar os jogadores por lá. E no mundo do futebol, até o Flamengo também marcou presença, quando se preparava para a disputa da final do campeonato brasileiro de 1982 contra o Grêmio. Entre outros famosos, o então apresentador do Jornal Nacional Cid Moreira esteve presente, apenas para citar algumas personalidades estreladas. A Sauna oferecia sauna a vapor, sauna finlandesa, duchas, massagem, bar e ampla sala para descanso com arcondicionado aos seus frequentadores.
A sauna funcionava durante a semana sendo que nas terças e quintas-feiras só podia frequentar o público feminino, e nesses dias as esposas dos contadores, Sônia Port e Júlia Drechsler trabalhavam de forma alternada. Além de atender, Sônia fazia massagem relaxante.
Eles faziam anúncios nos jornais e na rádio para atrair clientes, sempre destacando os benefícios que a sauna oferece para a saúde. Um deles dizia assim: “Quer remoçar? Emagrecer? Prevenir doenças? Prolongar a Vida?”. Ou seja, já atuavam forte no marketing para atrair a clientela. E atraiam muitos clientes da região, sendo que grande parte dos frequentadores era de Gramado. Existia uma intensa integração entre os clientes.
Com o passar dos anos, muitos hotéis começaram a ter as suas próprias saunas e a prestar os mesmos serviços. Aliado a isso, a grande recessão econômica que o país atravessava na época tornou a manutenção da Sauna insustentável, encerrando este capítulo em 1989, mas deixando marcas indeléveis.
Mas, mesmo com vários empreendimentos, reformas e ampliações o resultado é o que se vê nos dias atuais: a Casa da Praça João Corrêa segue firme e forte no mesmo lugar preservando a sua essência e a Deport Contabilidade segue sendo uma empresa consolidada, repleta de méritos, sendo referência na região. Atualmente, Anibal e Paulo, ao lado dos filhos, Rosângela e Paulinho comandam o escritório com muita seriedade e competência.
Rozangela Allves Jornalista